A Centenária Aspirina revela-se também poderosa na prevenção do câncer
Aspirina, a medicação mais conhecida e consumida em todo o mundo, completou 116 anos de existência. Ela foi desenvolvida pelo químico alemão Hoffman, que conjugou o ácido salicílico, extraído da casca do salgueiro (chorão) com acetato, sintetizando o ácido acetil salicílico. Patenteado pela Bayer, em 1897, a aspirina foi o primeiro medicamento produzido quimicamente e distribuído na forma de comprimidos. Sua ação se popularizou como antitérmica, antiinflamatória e analgésica. Mas, a aspirina foi além e, através dos anos, teve seus benefícios constatados também em outras áreas. Uma delas, já largamente conhecida, é a prevenção de doenças cardiovasculares. Por ser um eficiente antiagregante plaquetário, seu uso diário, em baixas doses (75 – 100 mg), promove redução de 20% no risco de enfarto do miocárdio (Lancet 2009; 373: 1848).
Foi também constatado seu benefício no câncer de cólon, por diminuir a incidência e o risco de morte nesses casos (Lancet 2007; 376: 1741). Os benefícios em relação ao câncer não param por aí. Pesquisadores ingleses avaliaram oito estudos, envolvendo 25.000 pacientes, com uso diário de aspirina, em baixa dose, acompanhados durante 4 a 8 anos. Veja o que foi constatado (BMJ 2010; 321:1183, Lancet 2011; 377:31):
-redução de 21% do risco de morte por câncer;
-redução de câncer do esôfago — observada a partir de 5 anos de uso;
-redução do risco de câncer do estômago e do cólon — significativa após 10 anos de uso.
Estes trabalhos não possibilitam ainda esclarecer em que idade e durante quanto tempo a aspirina deve ser recomendada. Também não se sabe qual grupo de indivíduos pode ser mais beneficiado com a sua utilização.
De acordo com o epidemiologista americano Eric J. Jacobs o uso diário de doses baixas de aspirina, para a prevenção de câncer e de doenças cardiovasculares, apresenta melhor relação custo-benefício que a dos exames para prevenção de câncer de mama e de próstata. O benefício é alcançado mesmo quando há necessidade de se associar inibidores de bomba protônica e de erradicação do H. pylori em pacientes com risco de hemorragia digestiva alta (Lancet 2011; 377:3). A possibilidade desta complicação tem sido relatada em 2 a 3% dos casos (BMJ 2000; 321:1183). Os pacientes idosos e aqueles com passado de úlcera gastroduodenal ou de hemorragia digestiva alta são os mais predispostos a estas complicações.
Ou seja, mesmo com todos os louros, a boa e velha senhora não é milagrosa e nem deve ser indicada indiscriminadamente para toda a população. A sua recomendação como prevenção deve, como sempre, ser avaliada caso a caso.
A surpreendente eficácia da aspirina na prevenção do câncer mereceu matéria de capa do Lancet, na edição de Janeiro 2011.